Que livro escolher para meu filho?

Professor de literatura destaca matéria do filósofo sócio-editor da Parábola Editorial, Marcos Marcionilo 

Muitos pais se deparam com essa pergunta, principalmente quando, com o avanço da escolarização dos filhos, a necessidade de inseri-los no mundo da leitura se faz mais urgente.

Hoje em dia, vemos um verdadeiro “surto”, no mercado editorial brasileiro, de livros infanto-juvenis, com as mais variadas temáticas. É inegável, porém, que há uma tendência na literatura infantil brasileira contemporânea: a dos livros “úteis”, “educativos”, com “mensagens” ou “ensinamentos”.

Frente a essa verdadeira enxurrada de livros “pedagógicos”, não se estranha que os pais e educadores sintam-se tentados a adotá-los como a primeira opção no momento de escolher uma obra a recomendar aos filhos e alunos. É preciso, porém, ter cuidado.

Isso porque, como afirma Marcos Marcionilo, editor-chefe da Parábola Editorial e de seu selo infantil, a Pá de Palavra, a literatura “útil” ou “educativa” é, precisamente, a que menos tem chance de conquistar os jovens. De fato, seu efeito costuma ser exatamente o oposto: quando uma criança percebe que um livro está tentando “ensiná-la”, é bem provável que perca o gosto por lê-lo. Tentar ocultar ensinamentos e lições de moral na obra literária é como colocar a cenoura, picadinha, no arroz: não engana a ninguém!

Assim, Marcos nos recomenda:

“Claro que ensinar os filhos a serem responsáveis, educados, estudiosos e produtivos deve ser uma preocupação de mães e pais. Mais que uma preocupação, uma missão deles. Deles! Que não pode ser transferida para a literatura, sob risco de tirar dela o que ela tem de melhor: sua capacidade intrínseca de resistir à instrumentalização, ao imediatismo de pais apressados em encontrar mecanismos de domesticação de seus filhos, que, nessa fase, vivem demais de angustiados e podem estar bem rebeldes.

É preciso encher tablets, smartphones, notebooks de textos literários que façam germinar nesse momento a esperança e a força, que levam à autonomia.

A melhor literatura, os melhores autores, os textos que podem marcar seus filhos e filhas adolescentes serão, acreditem, os mais [in]úteis, os menos instrumentalizáveis, os mais inadequados a suas urgências angustiadas. E mais: a melhor literatura será aquela que seus filhos adolescentes escolham ler.”

O segredo, então, é oferecer aos jovens a maior quantidade de livros possível, bem como o sempre poderoso exemplo. Um jovem que vê a leitura em sua vida diária, que convive com leitores e com livros, certamente, em algum momento, se interessará por ler. E o melhor livro será sempre o livro que a criança queira e goste de ler. Esse entendimento é fundamental para que possamos combater a sempre comentada falta de leitura do brasileiro.

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