O humor na sala de aula

Professor de história destaca o delicado limiar que existe entre a calúnia e o desenvolvimento do altruísmo na sociedade

Depois da catastrófica derrota de 7 a 1 para a Alemanha na Copa do Mundo de 2014, os brasileiros parecem ter esquecido o sentimento de aversão em relação a nossa seleção e retomaram o ânimo. É o que podemos notar com a nova piada que anda circulando nas redes sociais, que tem um fundo histórico e é bastante criativa. Ela diz o seguinte:

“Se um dia algum alemão debochar do Brasil ter perdido por 7 a 1, você pode responder que pelo menos nós brasileiros não perdemos duas guerras mundiais”.

Este estilo de linguagem, com tom de deboche e mesmo parte do humor negro, nos mostra um pouco do nosso “jeitinho brasileiro” de ser. Primeiro pela criatividade, mas sobretudo por conta da maneira de levar muitas das coisas sérias na brincadeira. Isso pode ser saudável em certos pontos, mas não é por isso que certas piadas não devam ser lançadas com cautela. 

Entretanto, este tipo de informação que circula nas redes sociais pode ser sim adaptado em sala de aula, para introduzir o conteúdo e usar também do método de contextualização, ou seja, trazer um conteúdo que pode aparentar distante o mais próximo possível do aluno, partindo de um ponto que ele conheça. Muitas vezes partindo dos fatos presentes. Vi então neste tipo de humor, apesar de podermos considerar como sendo um humor “negro”, uma oportunidade de contextualizar a matéria que é trabalhada no início do 1º bimestre no 9º ano.

O humor pode ser considerado negro pelo fato de tratar como piada os dois conflitos mais sangrentos da História, em que morreram mais de 70 milhões de pessoas, mas é também uma oportunidade de mostrar quais tipos de informação podemos encontrar nas redes sociais e quais tipos de comentários e deboches podem ser feitos. Zombarias que não devem contudo prejudicar nem caluniar pessoas. Neste contexto, podemos tornar o assunto educativo e instrutivo, não só por meio do conteúdo histórico que nele se apresenta, mas também pelo viés da ética e da linguagem. 

A partir daí, podemos nos basear nas seguintes perguntas: o que afeta ao outro às vezes pode ser banal para mim, mas ter um grande impacto em quem sofre a piada ou o preconceito. Abordar o altruísmo é importante, principalmente nesta sociedade que se transforma cada vez mais em individualista. É por isso que o ponto de vista tem que ser trabalhado ao longo de toda a formação do aluno, nas diferentes áreas do conhecimento, para assim formar não apenas alunos capazes de passar no vestibular, mas seres pensantes com um grande espírito de cidadania. Professor Didier da Silva Kornprobst

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