“Tempo não é dinheiro, tempo é vida” - Professor André Bacci comenta sobre o dia do trabalho
O Dia do Trabalho ou Dia
Internacional dos Trabalhadores é celebrado anualmente no dia 1º de Maio em
vários países. É significativo que este feriado tenha origem numa manifestação
de trabalhadores ocorrida em Chicago, a 1886, no seio da nação que enfeixa os
ideais do capitalismo predatório, ou seja, os Estados Unidos da América. A
manifestação teve como objetivo reivindicar a redução da jornada de trabalho e teve
a participação de milhares de pessoas. Nesse dia teve início uma greve geral
nos Estados Unidos. Nos dias subsequentes houve confrontos com a polícia,
prisões e muitos feridos. Por fim, os trabalhadores conseguiram seu intento e
foi estabelecida uma jornada de trabalho de oito horas diárias, lei que vigora
até hoje.
O exemplo do proletariado
estadunidense foi seguido em muitos países da Europa, cuja classe operária
havia sido recentemente impactada pelas ideias revolucionárias de Karl Marx e
Friedrich Engels, autores da obra O
Manifesto do Partido Comunista, por meio da qual trataram de chamar a
atenção dos trabalhadores europeus com relação à opressão imposta pela
burguesia desde meados do século XVIII. A esta época, na Inglaterra (primeiro
país a empenhar a Revolução Industrial), a atmosfera de descontentamento com a
classe burguesa dona dos meios de produção era crescente. O ritmo de trabalho
havia mudado e com ele a notação do tempo e a maneira de enxergar a vida como
um todo. O estresse decorrente dessa circunstância histórica se faz notar a
partir de muitos documentos, inclusive artísticos, em especial no campo da
literatura, pelo que podemos inferir deste trecho do escritor e jornalista
britânico Daniel Defoe (1660-1731), o famoso autor de Robinson Crusoé:
“Mantínhamos
um velho criado, cujo nome era Wright, trabalhando todos os dias, embora fosse
pago por semana, mas ele fazia rodas por ofício [...]. Certa manhã aconteceu
que, tendo uma carroça quebrado na estrada [...], o velho foi chamado para
consertá-la no lugar em que o veículo se encontrava; enquanto ele estava
ocupado fazendo o seu trabalho, passou um camponês que o conhecia, e o saudou
com o cumprimento de costume: ‘Bom dia, velho Wright, que Deus o ajude a
terminar logo o seu trabalho.’ O velho levantou os olhos para ele [...] e, com
uma grosseria divertida, respondeu: ‘Pouco me importa se ele ajudar ou não,
trabalho por dia’.”
Daniel Defoe, The
Great law of subordination considered; or the insolence and insufferable
behaviour or servants in England duly enquired into (1724)
Comemoremos
este Dia do Trabalho como um dia de conquista de direitos dos trabalhadores, incluindo
o direito de tomar tempo para refletir sobre o fato de que, como diria o
filósofo estadunidense Abraham Heschel, – e ao contrário do que reza a cartilha
do capitalismo predatório – “tempo não é dinheiro; tempo é vida”!
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